
Ao contrário do que acontece em Contos Da Escola, esta obra apresenta grande disparidade entre os autores, ou seja, traz tanto contos de Guimarães Rosa e Machado de Assis – autores consagrados – como de Leo Cunha e Hebe Coimbra – nomes não tão conhecidos na literatura brasileira. Talvez a escolha dos contos se justifique pela qualidade deles, que, independentemente do prestígio de seus autores, são muito interessantes. Vale a pena ressaltar as enormes diferenças entre eles, seja pelo tema, pela extensão da narrativa, pela forma de narrar, pela linguagem ou pela forma como são estruturados.
O primeiro dos seis contos é O sabiá e a girafa. É perceptível a musicalidade que se estabelece no conto pela repetição de consoantes fricativas, que podem aludir ao próprio canto do sabiá: “Mas o sabiá da minha história não sabia avoar. Assobiar ele sabia. Mas, que mais batesse as asas, o sabiá não subia.” O conto, narrado em prosa poética, dá nome ao livro pelo qual Leo Cunha recebeu os prêmios: Bienal Nestlé, Jabuti e Ofélia Fontes – O Melhor para a criança – da FNLIJ em 1994.
A segunda história, Num pacato vilarejo (altamente recomendável pela FNLIJ), escrita por Hebe Coimbra, é construída em forma semelhante a de um poema, apresenta rimas e possui uma linguagem bem humorada.
A seguir o livro traz Fita verde no cabelo de Guimarães Rosa, considerada altamente recomendável pela FNLIJ pela riqueza simbólica, pela singular estrutura narrativa e pela linguagem inovadora – típica das obras do autor.
Chifre em cabeça de cavalo de Luiz Raul Machado, quarto conto da coletânea, recebeu o prêmio Orígenes Lessa – O melhor para o jovem –, da FNLIJ, em 1995. O conto é bastante criativo, faz referência e cita várias outras obras da literatura, tanto brasileira quanto estrangeira, como Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes eMemórias de Emília, de Monteiro Lobato.
A história que se segue é Um apólogo, de Machado de Assis. O conto é bastante curto e aborda as relações humanas por meio da personificação de uma agulha, uma linha e um alfinete: “... um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
– Anda, aprende tola. Cansas-te em abrir caminho para ela (a linha) e é ela que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
O último conto é Zoiúdo: o monstrinho que bebia colírio, de Sylvia Orthof. A autora, que já ganhou muitos prêmios com suas peças teatrais, aproxima o leitor por meio da narração em primeira pessoa, além de utilizar da metalinguagem: “Eu estava sentada ali, quando escutei uma voz, que vinha da ameixeira:
– Ei, Sylvia, você escreve uma história sobre mim? Escreve? Você escreve? Creve? Creve? Creve? Ve? Ê?
A palavra ia diminuindo de extensão, mas aumentando de chateação. Quem seria?”
Este trecho também nos permite observar o quanto a linguagem utilizada por Sylvia Orthof é simples e próxima ao cotidiano da criança e do jovem.
Meus primeiros contos, assim como os demais livros da série Literatura em minha casa, oferece rico material para as aulas de língua portuguesa e literatura. Cada conto deste livro, com suas extremas diferenças, é uma oportunidade para trabalhar a leitura deste gênero em sala de aula.
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